terça-feira, 16 de junho de 2009

Bullying_reflexão

O que se entende por Bullying?

Olweus (1994, referido em Carvalhosa et al. (2001:523) considera que existe bullying quando “um aluno está a ser provocado/vitimado” sendo “exposto, repetidamente e ao longo do tempo, a acções negativas da parte de uma ou mais pessoas”.
A palavra bullying tem origem no inglês e traduz “assédio psico¬lógico, moral e/ou físico, que se define como uma conduta intencionalmente agressiva” (Urra, 2007:1), através de insultos, ameaças, agressões físicas e/ou intimidação psicológica, conduta esta repetida e intensificada ao longo do tempo, exercida por um indivíduo ou grupo, com o objectivo de causar danos ou mal-estar e controlar outra pessoa ou grupo.
Este fenómeno sempre existiu, sempre houve maus tratos entre iguais, “mais fortes” a exercerem a sua força, humilhando ou vitimizando “os mais fracos”, aproveitando-se das suas fragilidades, para os controlarem, de forma muito forte, grave e repetida.
Não se trata de situações esporádicas de condutas agressivas, competitivas, discriminatórias, que fazem parte das interrelações quotidianas entre crianças e adolescentes, mas de um intimador ou vários, que, intencionalmente intimidam, assediam, humilham, excluem, chantageiam, usando a força física ou o poder psicológico, a vítima, impotente para sair da situação, sem razão aparente e sem intervenção dos observadores.
Estas situações provocam baixa auto-estima, isolamento e exclusão social da vítima, que as vive de forma confusa, emocionalmente dependente do agressor. Os vitimados ficam, então, à mercê dos intimadores, que os manipulam à sua vontade.
Acontecem ocasionalmente nas escolas e, por vezes são encarados como brincadeiras, ou não é dada atenção a estas situações de maus tratos, por vezes nem os professores se apercebem delas ou sentem-se incompetentes para enfrentar estas situações, ou “passam ao lado”, considerando-as esporádicas e não lhe dando a relevância que têm, assim como às consequências advindas, como a sua maior frequência, intensidade, violência e visibilidade.
De facto, Ramiro Marques e Jorge Sampaio alertam-nos para a violência escondida: “Em Portugal, não temos comportamentos de grande violência, mas muitas vezes esta instala-se de forma surda, com pequenas situações de ameaças nas casas de banho ou casos de bullying, provocação e humilhação entre alunos”, indica Daniel Sampaio (Correio da Manhâ de 23.06,08, referenciado por Marques,2008, no seu blogue sobre “Violência e Bullying”). Segundo este autor, teima-se em silenciar este fenómeno e este vai alastrando, perante a passividade das autoridades escolares e o desespero das vítimas.

Quem são os intervenientes do Bullying?

Segundo Urra (2008:2), tanto as vítimas como os intimadores, assim comoos observadores “manifestam baixa auto-estima e têm um fraco poder de influência nas relações interpessoais com os pares”.
Os intimadores podem demonstrar a sua tendência, querendo impor sempre os seus desejos, sem conhecer limites, ser dominante, gritar e usar maus modos, gabar-se das suas acções de intimidação, não se por no lugar dos outros, serem fonte de queixas pela sua conduta desconsiderada e prepotente. Aprendem a sentir-se bem com o maltratar os outros, utilizando a violência para conseguir os seus objectivos, sentindo o poder, prestígio, destaque de protagonista, necessitando desta popularidade que não consegue de forma natural. Mas como o faz sem parar para pensar no que faz, age por impulso e é capaz de tudo para permanecer protagonista, podendo correr o risco de incorrer num percurso delinquência. Quando confrontado com os seus actos, nega e convence-se a si mesmo a sua responsabilidade, justificando o seu comportamento por culpa da vítima, da escola, da sociedade, assumindo-se também como vítima.
As vítimas vivem estas situações com vergonha, ocultamento e sentimentos de debilidade, sofrendo de angústia, ansiedade, temor, terror, baixa auto-estima, podendo traduzir-se em abandono e insucesso escolar, entrar em depressão, podendo culminar em suicídio. Torna-se-lhes difícil falar por vergonha e uma certa culpa que sentem por sentirem que talvez mereçam o que lhes está a acontecer por serem diferentes.
Há também os actores deste fenómeno que, sem intervirem directamente no acto, são observadores. Não informam os adultos da situação por medo de serem acusados e das consequências de serem bufos e não actuam em defesa dos mais fracos, por recearem a acção dos mais fortes e vão aprendendo formas negativas de relação que deixam de distinguir de condutas positivas, habituando-se a ser cúmplices dos agressores e não terem coragem para se colocar ao lado do mais fraco ou cooperarem para que a situação de violência não aconteça.
Várias são as causas, apontadas por vários autores, que consideram como factores de risco e que poderão conduzir a situações de bullying: a impulsividade, o estilo educativo paterno coerciti¬vo e punitivo ou errático, sem limites definidos, demasiado permissivo, ausência de vínculos sociais e afectivos, resultando numa carência afectiva, exposição à violência e, por isso, falhas na aprendizagem sócio-cog¬nitiva, fracos vínculos sociais e escasso autocontrolo individual.
Urra (2008:4) chama a atenção para o facto de muitos pais, por alegada falta de tempo delegarem noutras pessoas/instituições (professores/escola), a educação dos filhos, que é responsabilidade sua. Considera que os pais devem estar atentos a sinais de comunicação dos filhos que lhes dêem informação de que o filho está bem ou não, tentando “abrir os canais de comunicação com as crianças e interessar-se por saber como se sentem, como foi o dia, pois este detalhe pode marcar a diferença» (Afonso & Cervifío, 2006).
Quando confrontados com a realidade do filho como um actor deste fenómeno de bullying (como intimador, vítima ou simples observador) actuar, condenando e sancionando no primeiro caso, apoiando os vitimados e recriminando a atitude dos observadores, e promover outras atitudes em todos, apoiando a apoiando-se na actuação da escola, numa conjugação de esforços para conseguir terminar esta situação e estes comportamentos.

Como lidar com este fenómeno?

Promover discussões sobre a temática da violência e das relações interpessoais com a participação de toda a comunidade educativa, reflectindo em conjunto sobre sinais e comportamentos das crianças, adolescentes e jovens nesta situação e de como actuar perante estes.
Assim, perante um intimador, sancioná-lo pelo seu comportamento, confrontando-o com um juízo negativo e tentando cercear as suas condutas violentas, numa acção conjunta escola-família,
As vítimas de Bullying devem igualmente ser apoiadas no sentido de as dotar de competências que lhes permitam confrontar-se com os agressores, bem como de reforçar a sua auto-estima. Fazê-las perceber que não é culpa sua, que não há motivo para ter medo ou vergonha e que devem pedir ajuda. Conseguirem ampliar o seu grupo de amigos dentro e fora da escola é importante para aumentar os seus vínculos de afecto.
Os espectadores passivos devem ser ajudados a contar com a escola e a família para os ajudar a não serem cúmplices e/ou incapazes de distinguir condutas positivas de formas de relação negativas. È necessário que se sintam seguros e perceberem igualmente que não têm culpa do que aconteceu, mas que podem ser intervenientes positivos, pondo-se ao lado da vítima ou, contando com a intervenção e apoio dos adultos, evitar piores situações.

Considerações finais

O fenómeno da violência nas escolas, pela visibilidade que tem obtido, tem sido abordado em diversas dimensões.
O Ministério da Educação reforçou as escolas “com recursos humanos e técnicos especializados – mediadores, psicólogos e assistentes sócias - para abrirem frentes de trabalho com os alunos e com a comunidade” (Ministra da Educação à RR, 2007, citada por FERSAP) e implementou acções de formação para docentes, dotando-os de algumas capacidades para ajudar os alunos a reagir a situações de dificuldade de relacionamento interpessoal, como afirma Sampaio, que salienta que os alunos têm de ser treinados para aumentar a sua capacidade de resposta a provocações (FERSAP, citando RR, 2007).
Daniel Sampaio chama a atenção para a necessidade de uma visão mais sistémica do problema, ou seja, para prevenir a violência deve-se “detectar precocemente os estudantes com dificuldades em obter sucesso académico, monitorizar o progresso obtido e combater o preconceito de que estudantes com baixo nível económico não terão sucesso, o que leva com frequência à sua marginalização. Deste modo, pode afirmar-se que manter os estudantes a trabalhar, num clima exigente mas de respeito mútuo entre professores e alunos, conduz EM CONJUNTO a uma escola com maior sucesso e, em consequência, com menos violência”.
Salienta ainda que “as definições internacionais consideram os distúrbios na sala de aula como uma forma de violência escolar, ao lado da vitimização de membros da escola, da exploração física e psicológica, da ciberviolência (em crescimento), do "bullying" (intimidação/provocação) e de outros comportamentos violadores da intimidade ocorridos no território escolar”. Considera que “é assim que se toma como violento todo o comportamento que possa afectar de forma negativa o clima de aceitação e respeito mútuo que deve existir em todos os estabelecimentos de ensino, o que deve estar bem expresso no seu regulamento interno. Escola sem regras definidas caminhará para a violência!”
Reflecte ainda sobre a “simplificação não desejável decorrente da separação forçada entre o comportamento considerado minor (a indisciplina) e o major (a violência)”que “é a de que deverão ser seguidos programas separados, com as acções mais severas (por exemplo, com recurso a entidades exteriores à escola) destinadas ao combate à violência; e acções pedagógicas para os problemas de indisciplina”.
Esta reflexão leva-nos a concluir que só com um programa articulado de combate à violência escolar, ou seja, diremos nós, de promoção de competências para lidar com o conflito, adquirindo capacidades de valorização pessoal e de comunicação e interrelação, promovendo a confiança e sentimento de segurança em nós próprios e na relação com os outros, articulado e sistémico, que abarque todos os intervenientes directos e indirectos nos processos educativos das crianças, adolescentes, jovens poderemos enfrentar e prevenir a indisciplina e a violência escolar.

Bullying_pertinência do tema

Apesar de não trabalhar directamente com situações de bullying, é um tema que acho muito pertinente abordar, dada a sua actualidade, quer pela procura de eliminação,com acções directas e direccionadas para o seu desaparecimento, quer através de estratégias de promoção de competências para lidar com o conflito, adquirindo capacidades de valorização pessoal e de comunicação e interrelação, promovendo a confiança e sentimento de segurança em nós próprios e na relação com os outros, para todos os intervenientes directos e indirectos nos processos educativos das crianças, adolescentes, jovens.
Acho que, com este projecto, enfrentamos e prevenimos a indisciplina e a violência escolar,e criamos contextos de boas relações interpessoais, essenciais para não se criarem situações de bullying.

Bullying_breve apresentação

Este trabalho insere-se no estudo do fenómeno conhecido por Bullying, tema de grande actualidade e visibilidade através do que a comunicação social exibe e dos estudos divulgados sobre esta matéria.
Cada vez com maior frequência ouvimos falar, assistimos na televisão ou lemos nos jornais sobre cenas de violência que ocorrem nas escolas. Este facto não é novo, mas dada a sua maior frequência e visibilidade, está a ser motivo de grande preocupação e interesse para os alunos, pais, profissionais da educação, investigadores e comunicação social.

Bullying_fontes

Carvalhosa, S. F.; Lima, L.; Matos, M. G. (2001). Bullying – A provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica (Nº 4 - XIX): 523-537. Acedido a 01 de Junho de 2008 em http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a04.pdf

ESMAG (2009). Daniel Sampaio sobre indisciplina e violência escolar Perigosas Simplificações (Texto publicado a 7 de Junho de 2008... mas actual). Acedido a 01 de Junho de 2009 em http://esmgasegura.blogspot.com/2009/02/daniel-sampaio-sobre-indisciplina-e.html

Marques, R. (2008). Violência e Bullying. Blogue pessoal. Acedido a 01 de Junho de 2009 em http://www.ramiromarques.com/2008/06/violncia-e-bullying.html

Rádio Renascença (2007.Março.06). Ministério avança com medidas contra o “bullying”. Notícia publicada por FERSAP, na sua página , acedida a 01 de Junho de 2009 em http://www.fersap.pt/fersap/modules.php?name=News&file=article&sid=582

Urra, J. (2007). O pequeno ditador. Da criança mimada ao adolescente agressivo (2ª ed.) Lisboa: A esfera dos livros, pp.325-336. Excerto fornecido na disciplina: pp. 1-5, acedido em http://mail.google.com/mail/?ui=2&ik=41fce065da&view=att&th=121793c0909bacbb&attid=0.1&disp=attd&realattid=f_fv5kervg0&zw