domingo, 22 de março de 2009

Actividade 1: conceitos de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição. - pertinência

Este tema é muito pertinente, pois ajuda-nos a arrumar estes diferentes conceitos, que tantas vezes se misturam e confundem, assim como a situá-los e referenciá-los nos contextos que frequentamos e, principalmente nos contextos escolares e formativos em que estamos a trabalhar.

O facto de os arrumarmos e situarmos pode contribuir para nos consciencializarmos bem deles, da sua relevância e de como lidar com as situações que os envolvem, de forma a contribuir para o bom desenvolvimento social de todos.

Actividade 1 - trabalho realizado no âmbito dos conceitos: afiliação, aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição

AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS – Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição

Reflexão sobre os conceitos
O Homem é um ser eminentemente social, ou seja, constrói-se na relação com o outro.
Mesmo antes de nascer, todo o ser humano está inserido num contexto relacional que vai funcionar como alicerce do seu desenvolvimento, na medida em que aparece numa estrutura sociocultural que subsiste num sistema alargado de relações (Costa & Matos, 2007:7). Ao longo da evolução da humanidade e de cada ser humano, “a sobrevivência esteve e ainda está associada à relação com o outro” (Prette & Prette, 2007:215)
Somos munidos de competências biologicamente preparadas, módulos complexos de padrões cognitivos, emotivos e comportamentais para responder a necessidades internas ou externas de relacionamento interpessoal. Desde que nascemos até que morremos fazemos parte deste sistema complexo de relações, e é através destas que vamos construindo um modelo de nós próprios e um modelo do outro que vão estruturando a nossa personalidade.
É nesta interacção dinâmica do indivíduo com o contexto (família, escola, pares, comunidade) que se cria a necessária vinculação (sentimento de segurança e de conforto proporcionado pelas relações mais íntimas) às figuras significativas, alicerce essencial para as relações interpessoais e para uma vida social saudável e com comportamentos sociais adequados.
Bowlby (1969, citado em Costa & Matos, 2007:46), considera que o laço emocional que se estabelece entre o bebé e as figuras que cuidam dele (processo de vinculação) é um “desejo de proximidade enraizado biologicamente”, sendo que o ser humano tem imanente um comportamento de vinculação.
Estas relações de vinculação emocionalmente seguras promovem a aquisição da autonomia e estimulam a participação e o investimento noutros cenários de desenvolvimento, inclusive fomentam a afiliação, ou seja, o sentimento de pertença a um grupo. A tendência afiliativa é um aspecto básico do comportamento humano, cujas variáveis fundamentais são a dependência de ajuda ou de referência (Neto, 2000:143). O processo de afiliação confere sentimentos de atitudes e interesses partilhados, isto é, uma integração social, assim como concede o sentimento de sermos competentes e estimados, de entreajuda e de co-responsabilidade uns pelos outros (Neto, 2000:145,146).
Neste processo de afiliação criam-se relações de interdependência, condição essencial da vida social, na medida em que o ser humano faz parte de uma rede de conexões que coloca cada pessoa em dependência recíproca das demais. “Descobrindo o outro, descobre-se a si próprio”, na autonomia e na dependência, ou seja, na interdependência (Prette & Prette, 2007:219).
Também essencial para um relacionamento saudável e apropriado é o elemento aceitação, que se traduz no reconhecimento do outro tal como ele é, nas suas diferenças, numa atitude de abertura em oposição à intolerância, e que pode conduzir a uma “renovação da experiência de viver” (Prette & Prette, 2007:220).
Decorrente da junção entre aceitação e interdependência, deriva a solidariedade, como a disposição para a ajuda mútua, num processo de reciprocidade essencial para relacionamentos interpessoais saudáveis.
Relacionamentos saudáveis e apropriados advêm do sentido de pertença e aceitação do grupo de pares e contribuem definitivamente para a competência social, a auto-estima e a realização pessoal, académica e profissional.
Em oposição, apresenta-se o sentimento de rejeição, como uma reacção negativa em relação ao outro, que se pode manifestar em processos de marginalização de alguém pelos outros ou num processo de auto-exclusão defensiva do grupo de pares (Costa & Matos, 2007:62).

Atitudes de aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição registadas
É num contexto de um grupo de 21 crianças com idades entre os 3 e os 6 anos que se processa o desenvolvimento de actividades que promovo, num Jardim de Infância, de onde emanam as situações que apresento:
Aceitação e rejeição: O A. tem 5 anos e é uma criança que gosta de fazer tudo à sua maneira e que os outros também ajam segundo a sua vontade… Vai conseguindo com aqueles que são menos impositivos e com uma menor iniciativa, para os quais o facto de terem com quem estabelecer uma relação, lhes dá uma certa segurança. Mas, passado um tempo de aceitação desta postura, o A. começa a ser rejeitado, pois os outros fartam-se de ser “mandados”…
Foi o que aconteceu com a L., de 3 anos, que por ter começado a frequentar este Jardim de Infância à uma semana, se deixou “orientar” pelo A., criando uma relação de vinculação (comigo também), funcionando como uma “base segura, que lhe permitiu e estimulou a procurar e explorar o meio que a circunda, com um sentido de confiança e no mundo” (Costa & Matos, 2007:47). Agora ela rejeita-o e diz que ele é “feio, preto…” e que não quer nem sequer que ele fique ao seu lado.
A. sente-se rejeitado e, procura-me manifestando-se triste e se eu podia ajudá-lo a resolver a situação, pois “ninguém quer brincar com ele”, na manhã de 2ª feira…
Com o grupo todo, falamos sobre a rejeição e a aceitação e de como isso é importante para o bom funcionamento do grupo. Conversamos sobre a razão da rejeição das crianças pelo A. e muitos referiram que ele é “chato, mandão e só quer que todos lhe emprestem as coisas, mas ele não empresta nada!!!”
Confrontámos o A. com estas afirmações e ele admitiu que de facto é assim, mas que o Y e o X e o Z também. Questionados os outros se também têm, por vezes, estes comportamentos, concluímos que vários os manifestam e combinamos que temos que ser um pouco mais condescendentes uns com os outros e fazermos um esforço para sermos mais solidários e aceitarmo-nos com as nossas diferenças, mas também devemos fazer um esforço no sentido de cedermos um pouco para ficarmos todos melhor…
Combinámos que podíamos trocar de vez em quando – agora mandas tu e depois mando eu!! Eu empresto-te o meu e tu emprestas-me o teu!
Nos dias seguintes, 3ª e 4ª vieram várias crianças ter comigo, satisfeitas, dizendo que já são amigos do A., brincam juntos e emprestam-se as coisas. O A. também afirma o mesmo, muito feliz…”Eu hoje brinquei muito com o E., ele mandou um bocadinho e eu também! Foi tão bom!!”
Reciprocidade e solidariedade: Todas as 6ªs feiras, temos a sessão semanal de movimento, de que as crianças muito gostam e para a qual é necessário tirar os bibes e calçar as sapatilhas. Desde o início do ano incremento e estimulo a interdependência, a solidariedade e a reciprocidade. É costume nestas sessões as crianças colaborarem entre si, desapertando os bibes uns dos outros, ajudando os que não são capazes a calçarem as sapatilhas e vendo se as mesmas estão bem calçadas.
Na última 6ª feira, vieram ter comigo o P. de 3 anos de mão dada com o E. de 5 anos e o P. disse-me “Hoje fui eu que desapertei o bibe ao E., eu já sei, ele ensinou-me e ele desapertou o meu!!!!”. No final da sessão, aquando do vestir dos bibes, o E. estava a dizer à M. que deixasse o P. ajudá-la porque ele já sabia, ele tinha-lhe ensinado…
Este sentimento de entreajuda confere uma responsabilidade pelo outro, uma ajuda que é sentida como uma aliança que confere um bem-estar e um aumento da auto-estima quer pelo que ajuda, quer pelo que é ajudado, aprendendo…

Actividade 1: conceitos de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição. - Tema e objectivos

O tema é:Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição.
Os objectivos são: reflectir sobre os conceitos e registar atitudes observadas que os documentem em contextos escolares e formativos.

Actividade 1:Conceitos de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interpdependência e Rejeição - fontes

Para esta actividade as fontes usadas foram:

Costa, M. E., & Matos, P. M. (2007). Abordagem Sistémica do Conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

Neto, F. (2000).Psicologia Social (Vol. II). Lisboa: Universidade Aberta.

Prette, A. D., & Prette, Z. A. P. D. (2007). Psicologia das Relações Interpessoais: vivências para o trabalho em grupo (6ª ed.). Petrópolis: Editora Vozes.